COMO TUDO COMEÇOU
A segunda metade do
século XIX acordou com a proliferação de uma invenção que soube,
definitivamente, marcar o advento de um novo tempo. A pequena caixa de
madeira, criada por Louis Mande Daguerre em 1839,
conseguiu realizar um sonho desejado há milênios. O homem conquistou um
novo passo para a eternidade. Seu registro, após séculos de tentativas,
adquiriu a dinâmica da reprodução do real.
De todas as manifestações artísticas, a
fotografia foi a primeira a surgir dentro do sistema industrial. Seu
nascimento só imaginável frente à possibilidade da reprodução. Pode-se
afirmar que a fotografia não poderia existir como a conhecemos, sem o
advento da indústria. Buscando atingir a todos. Por meio de novos
produtos culturais, ela possibilitou a maior democratização do saber.
A fotografia, enquanto princípio fundamental já fora descrita por Platão na Antiga Grécia que, ao se encontrar no interior de uma caverna escura, viu imagens projetadas em sua parede.
Mesmo no Antigo Oriente (século IX, dc), um árabe conhecido por Alhazen mencionava
uma “tenda às escuras”, dentro da qual se podia observar o eclipse
solar. Pioneiro da Óptica, depois de Ptolomeu. Foi dos primeiros a
explicar o fenômeno dos corpos celestes no horizonte. Escreveu numerosas
obras notáveis pelo estilo e pelas observações sobre os fenómenos da
refinação da luz, com especial incidência na retração atmosférica ao
nascer e ao por do Sol.
O sonho de poder embalsamar as imagens
perdidas no tempo só se transformaria em realidade, apesar de todos os
esforços, com o advento do Renascimento Cultural, na Europa. Em um
quarto escuro, com um minúsculo orifício em uma de sua faces, o artista
da época descobria como facilitar seu trabalho mimético, contornando com
pincel a imagem refletida na parede oposta. Adaptar uma lente para “dar
mais força à luz”, foi quase um nada, e o passo seguinte foi
simplificar o suplício que era a caixa da câmera em si: torná-la mais
leve e desmontável, e com o passar do tempo, reduzir seu tamanho, para
garantir a melhor produção do artista.
A NOVA INVENÇÃO VEIO PARA FICAR…
A nova invenção veio para ficar. A Europa se viu aos poucos, substituída por sua imagem fotográfica. O mundo tornou-se, assim portátil e ilustrado.
O homem moderno diante desse novo
cenário, não tinha mais tempo para ler. Tinha que ver para crer! Não
podia mais contar com a lentidão e imperfeição das imagens produzidas
artesanalmente por desenhistas e pintores de sua época.
A CHEGADA DA FOTOGRAFIA NO BRASIL
Enquanto a Europa
durante o período do século XIX passava por profundas revoluções no
universo artístico, cultural, intelectual e mesmo na essência
humanística, no Brasil o invento de Daguerre era recebido com outra
conotação.
Poucos meses se passaram da tarde de
19 de agosto de 1839, quando a invenção foi consagrada em Paris, para
que a fotografia chegasse ao Rio de Janeiro em 16.01.1840, trazida pelo Abade Louis Compte,
de posse de todo o material necessário para a tomada de vários
daguerreótipos, conforme ilustra o Jornal do Commércio deste período:
” É preciso ter visto a cousa com os
seus próprios olhos para se fazer idéia da rapidez e do resultado da
operação. Em menos de 9 minutos, o chafariz do Largo do Paço, a Praça.
do Peixe e todos os objetos circunstantes se achavam reproduzidos com
tal fidelidade, precisão e minuciosidade, que bem se via que a cousa
tinha sido feita pela mão da natureza, e quase sem a intervenção do
artista.” (Jornal do Commércio, 17.01.1840,p.2)
Afastados geograficamente das
metrópoles, o estágio de desenvolvimento do país era bem inferior
àqueles das metrópoles europeias. As novidades aqui eram muito bem
recebidas, tornando- se moda num prazo bem curto de tempo. Os debates na
Europa em relação a validade ou não da fotografia enquanto manifestação
artística, comparada à pintura, não encontrariam espaço no Brasil
durante as primeiras décadas. A sociedade brasileira do período do
Império estava mais preocupada em usufruir a nova técnica, conhecida até
então teoricamente, em se deixar fotografar do que em refletir sobre os
aspectos artísticos e culturais do novo invento.
O Brasil desta época, agrário e
escravocrata, tinha a sua economia voltada para a cultura do café,
visando exclusivamente o mercado externo e dependendo dele para
importações de outros produtos. A sociedade dominante ainda cultuava
padrões e valores estéticos arcaicos, puramente acadêmicos, já
ultrapassados em seus respectivos países de origem, que só seriam
questionados e combatidos com a Semana de Arte Moderna de 1922.
Os Senhores do Café e a sociedade como
um todo, tinham uma visão de mundo infinitamente estreita e só poderiam
conceber a fotografia como mágica divertida, mais uma invenção européia
maluca!
A FOTOGRAFIA BRASILEIRA, DE D PEDRO II A SANTOS DUMONT
Em 21 de Janeiro do mesmo ano, Compte
dava uma demonstração especial para o Imperador D .Pedro II,
registrando alguns aspectos da fachada do Paço e algumas vistas ao seu
redor. Estes e muitos outros originais se perderam e já em novembro,
surgem os primeiros classificados da venda de equipamentos fotográficos
na Rua do Ouvidor, 90-A..
Desde o dia que Compte registrou as primeiras imagens no Rio de Janeiro, D Pedro II
se interessou profundamente pela fotografia, sendo o primeiro fotografo
brasileiro com menos que 15 anos de idade. Tornou-se praticante,
colecionador e mecenas da nova arte. Trouxe os melhores fotógrafos da
Europa, patrocinou grande exposições, promoveu a arte fotográfica
brasileira e difundiu a nova técnica por todo o Brasil.
Os profissionais liberais da época,
grandes comerciantes e outros, donos de uma situação financeira
abastada, já podiam se dedicar á fotografia em suas horas vagas. Para
essa nova classe urbana em ascensão, carente de símbolos que a
identificassem socialmente, a fotografia veio bem a calhar criando-lhe
uma forte identidade cultural. O grande exemplo disso foi o jovem Santos Dumont.
Em suas constantes idas á Paris, Dumont apaixona-se por fotografia e compra seu primeiro equipamento fotográfico.
De volta ao Brasil, monta seu
laboratório e aos poucos vai demonstrando interesse em registrar o vôo
dos pássaros até conceber os primeiros princípios da aviação.
Daí para chegar ao 14 Bis e ao Relógio de Pulso foi um pequeno passo…
A DESCOBERTA ISOLADA NO BRASIL
Por mais paradoxal que seja, foi
justamente dentro desse cenário que o Brasil, do outro lado do
Atlântico, disparava na frente das grandes metrópoles europeias,
descobrindo a fotografia no interior do Estado de São Paulo, em 15 de
agosto de 1832.
A quase inexistência de recursos para impressão gráfica daquela época, levou Hércules Romuald Florence,
desenhista francês, radicado no Brasil, a realizar pesquisas para
encontrar fórmulas alternativas de impressão por meio da luz solar.
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